Situacionismo

Novembro 6, 2009

Há algo sinistro na forma como toda uma nova indústria da Felicidade se insinua nas vidas de quem a pensa procurar. Momentos de mera humanidade, em que deixamos os sentimentos ceder perante as pressões que existem, são agora apelidados de fraqueza.

Um novo livro de Barbara Ehrenreich procura fazer um ponto de situação sobre o que acontece na sociedade americana em função desse optimismo impossível mas imposto por toda a gente.

De acordo com a autora, o dever que toda a gente tem de acreditar  que tudo é possível desde que se pense de forma positiva, constitui uma “moda” terrível destinada a permitir às pessoas demitir-se do dever de empatia para com o seu semelhante. As relações com os outros reduzem-se a um “sorri, que o Universo sorrirá para ti”, o que permite às pessoas manter a consciência tranquila mesmo que não dêem a quem dela necessita a ajuda que realmente precisa.

Para além dos potenciais danos nas relações com terceiros, o que podia ser uma atitude positiva pessoal que permitisse potenciar as acções que conduzissem a resultados positivos, transforma-se numa passividade quase suicida. “Se eu acreditar que vou ser feliz, serei feliz, e o Universo vai dar-me o que eu preciso para ser feliz”.

Aguardar-se que o Universo conjure no sentido de proporcionar felicidade a quem se queira sentir feliz, mas nada faça por isso, e acabe por achar que o facto de não alcançar a felicidade resulta da sua falta de merecimento pessoal pressentida pelas Forças do Destino, mais do que fomentar a inacção perante a adversidade, será que pode potenciar sentimentos de depressão?

Quando vamos a um médico, esperamos que ele nos medique, que ele nos trate, e não que ele nos diga: “Sorria, e o seu cancro entrará em remissão, e tudo ficará bem!”

Positive thinking é óptimo quando combinado com affirmative action, e não numa perspectiva de reality denial.

Barbara Ehrenreich, “Bright-Sided – How the Relentless Promotion of Positive Thinking has Undermined America” é, mais do que um manual para sobreviver nestes tempos de negação, um alerta para quem queira fazer algo da sua vida, e não apenas esperar que a sua vida aconteça de acordo com o que o Destino entenda que as pessoas mereçam ou não. O que, equivale a transportar para tempos laicos o já velhinho adágio “o nosso destino, a Deus pertence”, embora não devamos esquecer outro que não é tão comum nos países latinos e que o complementa: “Deus ajuda aqueles que se ajudam a si próprios”.

Informação sobre o livro e este assunto pode ser encontrada aqui.

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